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No Brasil, o surgimento da memorialística pós-ditadura representa uma reação silenciosa contra a patrimonialização da memória, contra a memória institucionalizada do discurso de poder vigente, seus símbolos, sua influência sobre a memória individual e seu reflexo sobre a narrativa. A narrativa pós-ditatorial promove a confrontação das memórias. Estimula práticas de memória e de esquecimento. Favorece o discurso dissidente contra os abusos da memória, a denúncia dos “assassinos da memória”, o silêncio, a amnésia, os “graus” de esquecimento e o esquecimento seletivo.
O romance Tupinilândia (2018), de Samir Machado de Machado, pode ser descrito como uma narrativa ficcional elaborada sob medida para o tempo presente vivido no Brasil — naquele que pode ser descrito como o "Brasil Surreal". País no qual uma parcela de seus habitantes, homens e mulheres, sem distinção de idade — de maneira arrogante e com um pretenso ar de superioridade — se autoclassificam como: "brasileiros preocupados e que têm opinião" — seja lá o que isso venha a significar — e que clamam pela instauração de uma nova ditadura militar no país, numa espécie de retorno nostálgico ao ano de 1964, ao mesmo tempo em que — aqueles que desejam um regime político de exceção — criticam duramente anacrônicas ditaduras latino-americanas.
Esta comunicação tem como objetivo apontar, de forma breve, alguns aspectos criativos presentes nas relações entre literatura, cinema, ética, história brasileira recente e economia do entretenimento, localizados no espaço da ficção brasileira contemporânea. Tomando como ponto de partida o romance Tupinilândia, proponho refletir sobre alguns aspectos ligados às formas e estruturas de construção da ficção memorialística brasileira pós-ditatorial, e sobre alguns dos temas abordados por esta memorialística, a saber: a memória dos estados de exceção; o sentimento de pertencimento patriótico; a fragmentação da identidade; e a convivência com a melancolia e recordações dolorosas, que surgem sob a forma de fragmentos narrativos irreconciliáveis que, reunidos em obras ficcionais, compõem aquilo que denominamos como sendo um anti-monumento ou um monumento ficcional negativo, conceito que tomamos emprestado da definição do trabalho artístico de Jochen Gerz, feita por Annette Becker e Octave Dubary (2012).