XVII Congress of the Brazilian Studies Association

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Escrita orgânica e corpos-floresta: apontamentos ecofeministas em Mujeres que trepan a los árboles (2017), de Patricia de Souza, e Flor de gume (2020), de Monique Malcher

Thu, April 4, 4:00 to 5:45pm, Aztec Student Union, Union 1 – Pride Suite

Abstract

Uma das equações mais relevantes para os estudos ecofeministas alude aos conceitos de mulher e de natureza como socialmente construídos a partir de noções gendradas, sendo seus corpos palco de lutas por poder e significado (Stacy Alaimo 13). Nesse contexto, o ecofeminismo tanto expõe dinâmicas de poder e divisões hierárquicas de conhecimento como engendra outras visões de mundo, nas quais a interconexão heterárquica entre seres mais que humanos, seres humanos e o planeta pode ser vislumbrada. Especificando esse contexto, a escritora e ensaísta peruana Patricia de Souza (1964-2019), em Ecofeminismo decolonial y crisis del patriarcado (2018), afirma que, além de ser uma forma de revolução, a ecologia posiciona as mulheres não na periferia, mas no centro de uma transformação copernicana que trará outro senso de espaço comunitário, outra língua e outros modos de representação (115-116).
Diante dessas considerações, o presente estudo pretende fazer uma leitura ecofeminista dos livros Mujeres que trepan a los árboles (2017), de Patricia de Souza e Flor de gume (2020), de Monique Malcher com o intuito de apontar que o germe dessa revolução está presente no fazer literário das duas escritoras latino-americanas. Em primeiro lugar, ambos os livros constróem uma intricada rede de relações entre o corpo da mulher e o da terra, apresentando uma simbiose e continuidade circular na qual mulher e terra se imbricam em corpos-floresta, sublinhando que “our bodies are never singular but part of wider entanglements of human and nonhuman forces that we can no longer ignore” (Campisi 194). Em segundo lugar, as narrativas, de difícil categorização, são empreendidas na chave da ambiguidade ao trabalhar ficção, autobiografia e diário, apresentando uma “visibilidade de si criticamente construída, ‘estilizada’” (Graciano 61). Longe de ser mero artifício textual cujo fim seriam jogos ficcionais, essa indeterminação de gênero literário se fundamenta numa demanda sociopolítica que busca representar subjetividades silenciadas. Seria o que Gloria Anzaldúa denomina de escrita orgânica, na qual a criação se dá não no papel, mas “nas vísceras e nos tecidos vivos” (234). Aproximando vida e escrita, natureza e cultura, Patricia de Souza e Monique Malcher empreendem um labor literário idealizado em sentidos existenciais renovados.

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