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Após o dramático atentado contra Carlos Lacerda em 5 de agosto de 1954, autoridades militares e policiais rapidamente responsabilizaram Gregório Fortunato, o chefe da Guarda Pessoal de Getúlio Vargas, pelo ataque. O suicídio de Getúlio no dia 24 do mesmo mês, após um ultimato militar, representaria para as forças conservadoras e udenistas a tão desejada derrocada do Trabalhismo, o movimento político varguista. Porém, como demonstrou Jorge Ferreira, a enorme conflagração popular após o suicídio do presidente, inesperada pelos seus opositores, fez com que demonizar Getúlio se tornasse politicamente inviável. Portanto, partidários e apoiadores da UDN elegeram um novo alvo para desqualificar o trabalhismo: Gregório Fortunato. Jornais e revistas como a Tribuna da Imprensa e O Cruzeiro utilizaram de artifícios dissimuladamente racistas para associar o Trabalhismo diretamente a Gregório—então já um personagem controverso e alvo fácil para tornar-se o bode expiatório—e, portanto, associar a política varguista à corrupção e ladroagem.
Nos anos seguintes a 1954, a imprensa oposicionista transformou “Gregório” em um substantivo próprio, sinônimo dos piores elementos da política varguista, para alertar a seus leitores que votar em candidatos como JK significaria “o retorno dos Gregórios” ao poder. Esta apresentação examina como algumas elites conservadoras da época viram em Gregório uma metonímia para a população negra e pobre, estabelecendo, em contraste com o que ele e o trabalhismo representavam, que o udenismo e especialmente o lacerdismo seriam um movimento político digno das classes médias e altas urbanas: honesto, radicalmente anticomunista e, acima de tudo, branco.