Search
Browse By Day
Browse By Person
Search Tips
Personal Schedule
Change Preferences / Time Zone
Esta comunicação busca problematizar a concepção clássica da historiografia de que, incorporado imaginária e simbolicamente à nação nos anos 1930, o trabalhador rural estaria livre de antigos estereótipos sobre o “homem do campo”, assim como seus problemas não passariam mais pela questão racial. Porém, no período entre as duas guerras mundiais, houve ainda, e cada vez mais, espaço para a afirmação e renovação de generalizações segundo as quais o camponês era interpelado por suas deficiências e carências ligadas à linguagem, à alimentação, à educação, aos recursos materiais, à saúde e ao trabalho. Todos esses fatores eram quase sempre acompanhados de conotações raciais.
Duas questões são fundamentais para entendermos como foi possível a reatualização e a ritualização de percepções consolidadas sobre o trabalhador rural naquelas décadas. Primeiro, verifica-se uma linha de continuidade na forte tradição da “eugenia rural”, que primou por racializar aquele trabalhador. Segundo, homens de letras e de ciência restauraram uma memória senhorial da Abolição para explicar a “desorganização do trabalho rural” atribuída ao fim da escravidão. Décadas de recomendações eugênicas e as supostas heranças de 1888 desaguariam em um “paternalismo moderno”. Ou seja, este era um modelo idealizado de dominação engendrada em um universo de relações de trabalho cada vez mais povoado por leis. Diante disto, buscou-se conciliar o desejo de se manter antigos mecanismos de dominação alicerçados na privatização do controle dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que urgia negociar os termos e as condições da legislação social e de sua aplicação. Trata-se aqui de analisar como a política social e trabalhista de Vargas foi em parte estruturada a partir da leitura da história do país associada a um passado rural, escravista e miscigenado.