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Em seu romance Nada digo de ti que em ti não veja, publicado em 2020, Eliana Alves Cruz dá continuidade ao projeto de representação do Brasil colonial escravagista que já apresentara em Água de barrela (2016) e O crime do cais do Valongo (2018). Nesta publicação mais recente, a composição do passado histórico ficcionalizado se dá pelas tensas relações entre as famílias Gama e Muniz, além de diversas personagens de origem africana – escravizadas ou livres – e um inquisidor em visita ao Rio de Janeiro. Esta apresentação tem como objetivo analisar a imbricação destas relações com as várias manifestações de fé que problematicamente se entrecruzam no romance. Enquanto a religiosidade africana é apresentada como criminalizada, a fé judaica e sua herança são uma ameaça ao sucesso das personagens naquele cronotopo de medo e punição pela atuação da Santa Inquisição. A análise da obra dialoga com estudos como os de Novinski (2001) e Daibert (2015), entre outros, sobre as várias manifestações religiosas no período colonial, além de textos de suporte teórico para analisar a representação da violência na literatura, tais como os de Ginzburg (2012) e Bourdieu (1989). Pretende-se, portanto, destacar a importância dos diferentes credos na reconstrução de um violento Brasil do século XVII que Cruz concebe em seu romance, comentando a importância da reconstituição desse momento histórico para entender as tensões religiosas e étnico-raciais que perduram na sociedade brasileira até a atualidade.