XVII Congress of the Brazilian Studies Association

O golpe civil-militar e a Guerra Fria religiosa: uma análise sobre a Cruzada do Rosário em Família no Brasil (1962-1964)

• In Event: Novos Caminhos para a Historiografia da Igreja Católica no Brasil

Abstract

A renovação historiográfica sobre a ditadura militar brasileira apresentou novos debates acerca da relação entre o regime e a sociedade. A Comissão Nacional da Verdade trouxe novas reflexões sobre o papel do Estado brasileiro durante o período ditatorial, assim como os diversos atores sociais que foram vítimas da repressão estatal. No entanto, se faz necessário compreender de que forma parte da sociedade brasileira se organizou e buscou apoio de instituições e grupos não apenas locais, como também internacionais, utilizando as disputas políticas e ideológicas do contexto de Guerra Fria para alcançar seus objetivos na derrocada do governo João Goulart. Neste sentido, este trabalho busca compreender como grupos de oposição ao governo Goulart mobilizaram a sociedade através do catolicismo na campanha que culminou no golpe militar de 1964. Para isso, será analisada a influência do movimento católico americano Cruzada do Rosário em Família durante sua passagem pelo Brasil entre 1962 e 1964.

Criada pelo padre irlandês Patrick Peyton, as cruzadas tinham o objetivo de expandir o culto à Virgem Maria através da oração do rosário, unindo a família contra o avanço da modernidade, do materialismo e o ateísmo. Num primeiro momento, as cruzadas podem ser vistas como mais um movimento devocional mariano entre os muitos que ocorreram durante o século XX. No entanto, quando analisadas junto ao contexto de Guerra Fria e a política doméstica americana durante os anos 1950, percebemos como o apoio do clero e laicato, além de empresários ligados a instituições governamentais americanas - como a CIA e a Aliança para o Progresso – tinham uma aspiração anticomunista, contribuindo para a política externa estado-unidense na América Latina. Neste sentido, busco compreender como a passagem das cruzadas pelo Brasil (1962-1964) se deu a partir de uma aliança transnacional que utilizava valores morais e religiosos conservadores para que grupos locais e internacionais garantissem o sucesso de suas agendas políticas, lutando contra a infiltração comunista e a ameaça que João Goulart representava a grupos diversos e política externa americana.

Author

• Isabella Villarinho Pereyra, Universidade Federal do Rio de Janeiro