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Este artigo dedica-se a analisar a novela histórica A Nova Aurora (1913) escrita pelo intelectual negro Raul Astolfo Marques (1876-1918) sobre a instauração da República em 15 de novembro de 1889 no estado do Maranhão, nordeste do Brasil. O ponto alto da novela é o relato minucioso do chamado Massacre de 17 de Novembro. Naquele dia, uma grande multidão de pessoas descritas como “libertos”, “cidadãos do Treze de Maio”, “homens de cor” e “ex-escravos”, saiu às ruas em protesto contra as notícias da queda da Monarquia. Na visão dessa gente, a mudança de governo vinha para restaurar a escravidão no país, recentemente abolida em 13 de maio de 1888. Os manifestantes percorreram as ruas do centro da cidade, dirigindo-se ao jornal republicano O Globo, que havia marcado uma conferência para o fim da tarde. Uma tropa de linha foi destacada para proteger a sede do periódico, mas isso não intimidou os manifestantes que ameaçavam atacar os seus dirigentes. O pelotão realizou uma descarga de fuzil contra a multidão deixando, segundo números oficiais, quatro mortos e vários feridos. Neste trabalho, investigo a maneira como a ficção se contrapõe ao flagrante silenciamento do incidente na documentação histórica do período bem como uma tradição historiográfica que enfatizou a não participação popular frente ao golpe de estado. Astolfo Marques fez de sua novela um espaço criativo no qual a narrativa da instauração da República é subvertida pelas vozes que emergem da memória coletiva da gente negra na periferia do Brasil.