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Nos primeiros anos da década de 1920, o Morro da Favela, que até então só costumava aparecer em letra de forma quando era citado nas colunas policiais dos grandes jornais do Rio de Janeiro, se transformou em tema de literatura. No intervalo de apenas dois anos, ele foi objeto de crônicas marcantes escritas por dois dos principais escritores do Rio de Janeiro: Orestes Barbosa e Benjamin Costallat. Operando entre a ficcionalidade e a referencialidade, tais crônicas dialogavam com imagens já consolidadas no noticiário da imprensa comercial sobre o Morro da Providência, como aquelas que o definiam em negativo. Criticado em geral por sua suposta falta de higiene, de legalidade e de segurança, ou pela falta de cultura e educação de seus moradores, tal morro costumava ser caracterizado na imprensa e nos relatos de autoridades públicas como o espaço da ausência. Era dialogando com tais imagens, sem chegar a negá-las, que os dois autores fizeram da localidade um objeto de suas crônicas. Ao ficcionalizar supostas visitas à comunidade ali instalada, partiam de um mesmo gancho narrativo para propor novas imagens sobre o morro, nas quais passavam a representá-lo como espaço autêntico de afirmação de uma cultura tão marginal quanto original. Analisar o modo pelo qual faziam isto em suas crônicas, de modo a buscar nelas tanto a base de afirmação da perspectiva modernista na literatura carioca quanto o diálogo com as experiências e expectativas dos próprios habitantes do local, é o objetivo desta apresentação.