XVII Congress of the Brazilian Studies Association

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Ameaças silenciosas na Amazônia Imperial: relato de uma doença desconhecida

Sat, April 6, 2:00 to 3:45pm, Aztec Student Union, Union 1 – Park Boulevard

Abstract

Em 1863, a câmara municipal de Cametá, cidade à margem esquerda do Rio Tocantins, reúne-se para uma assembleia extraordinária na qual um relato sobre uma “molestia de symptomas atterradores e que parecia querer propagar-se” centra a discussão. Dois médicos são enviados com urgência para o Engenho Vaccaria, onde três homens e três mulheres escravizados apresentam sintomas físicos e psicológicos semelhantes aos da malária, da febre amarela, e da violência colonial.
Relatos de "febres intermittentes" passarão a proliferar-se com a agilidade de um mosquito nas províncias do Pará e Amazonas. Apesar do conhecimento científico acumulado sobre essas doenças vetoriais, a região Amazônica ainda luta contra a malária, que carrega dentro de si um contato remoto interespécies potencializado pela história de exploração da floresta. O garimpo ilegal e o deflorestamento são causas imediatas para os saltos de epidemias e para o surgimento de novas pandemias na região, um conjunto de fatores econômicos, comportamentais e políticos (Castro, 2022) ainda não resolvido pelo poder público.
Nesta apresentação, as possíveis interpretações da doença serão lidas a partir dos distúrbios ecológicos do projeto colonial no Rio Amazonas. Trazidos por navios mercantis, corpos contagiosos foram incubados, geridos e proliferados nas Américas. A própria ciência era incapaz de conter os distúrbios que os projetos de modernidade traziam, um fenômeno familiar para os que habitam o Antropoceno. As causas pelas quais esses resultados de ocupação são narrados como frutos de fatalidades e não projetos civilizatórios e ecológicos serão o problema tratado por esta apresentação, que busca outras formas de narrar esses agentes e orientar-se face a eles.

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