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A hora de estrela, publicada em 1977, é o último —e provavelmente o mais estudado— romance de Clarice Lispector. Na minha análise, proponho que a morte de Macabéa é um momento culminar da história, não porque é o fim da protagonista e do romance, mas porque pode ser lido como uma celebração da vida e da morte da nordestina. Ao me afastar das leituras críticas da obra que têm se focado em uma leitura representacional de Macabéa, como mulher marginada produto da cidade letrada à que pertence o seu criador, sugiro ler a história da nordestina pensando na sua morte como o momento focal do romance, no que o seu criador já não pode falar por ela e, finalmente, ela pode existir ou desistir, mas em liberdade. Macabéa reconhece o dia da sua morte como o dia do seu nascimento e, simultaneamente, assinala a conexão irrefutável entre a vida e a morte como duas faces da mesma moeda. De tal maneira, as perguntas sem resposta que surgem ao nos deparar com o destino truncado de Macabéa permitem compreender o destino da protagonista como um ato de resistência e de celebração da vida e da morte, cheio de “(explosões)” que eludem qualquer tipo de leitura representacional da obra. No fim, Macabéa não deixa de existir, mas devém: morrendo ela vira ar, e o ar, como a arte, resiste à morte.