XVII Congress of the Brazilian Studies Association

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Vozes negras no romance Úrsula de Maria Firmina dos Reis

Fri, April 5, 9:00 to 10:45am, Aztec Student Union, Union 3 – State Suite

Abstract

“Julguei enlouquecer, julguei morrer, mas não me foi possível... a sorte me reservava ainda longos combates” dizia a personagem escravizada Suzana ou mãe Suzana, em um diálogo estabelecido com o recém-liberto Túlio, no romance Úrsula da romancista negra Maria Firmina dos Reis, publicado originalmente em 1859. As palavras da Preta Suzana, a quem a escritora dedica um capítulo inteiro, exprimem um profundo sentimento de dor, aflição e desespero ao rememorar a brutalidade que envolveu a sua captura em África e todo o sofrimento da travessia atlântica para a vida em cativeiro no Brasil. As mesmas palavras também revelam a força daquela mulher que, ao longo de toda a sua trajetória, enfrentaria outros “longos combates”, logo não lhe seria possível morrer naquele momento em que dela foram arrancadas “pátria, esposo, mãe e filha, e liberdade”. Embora a trama central do romance trate de um triângulo amoroso branco, as personagens escravizadas (Túlio, Suzana e Antero) não aparecem apenas como coadjuvantes. Todas elas aparecem como sujeitos complexos dotados de intensa humanidade. Distanciam-se significativamente da visão literária e historiográfica dominante que associava aos escravizados e aos negros em geral a coisificação e a incapacidade de ação ou de intervenção no mundo. Maria Firmina projeta em sua narrativa experiências e subjetividades inusitadas, apresentando movimentos de corpos plurais, que se movem em meio às violências do poder que os colonizava no oitocentos.
A intenção deste texto é refletir, prioritariamente, sobre a personagem Preta Suzana, uma africana adulta, nascida livre, casada, mãe de família, habitante de uma comunidade estruturada, que emerge na narrativa literária com seu próprio relato, revelando-se como um ser humano ciente de seus deveres e direitos no convívio com seus semelhantes e que, ao chamar seus captores em África de “bárbaros”, inverte a percepção de mundo dos dominadores.

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