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A escrita de Maria Valéria Rezende tem um viés engajado com temáticas sociopolíticas, sempre escancarando, por meio de suas personagens menos favorecidas, as desigualdades e as injustiças do país. Suas obras trazem à tona a empatia e a sensibilização, contribuindo para a reflexão de uma maneira diferente de lidar com o outro, ficcionalizando uma alternativa ao modo de viver em sociedade, mais aberto para o acolhimento do marginalizado, do invisível, do vulnerável, do subalterno etc, como sujeito narrativo humanizado. Nesta comunicação, dois de seus romances serão discutidos: Quarenta dias (2014) e Outros cantos (2016); uma vez que ambos têm algumas semelhanças. Objetiva-se, nesta oportunidade, analisar as narradoras personagens que, mesmo com elevado grau de instrução e de vivências, dialogam sem qualquer tipo de hierarquia com sujeitos marginalizados e em situação de vulnerabilidade, sejam moradores de rua ou moradores de um vilarejo no interior do Nordeste. Tanto Alice, em Quarenta dias, como Maria, em Outros cantos, são personagens deslocadas que dialogam com os invisibilizados pelo Poder Público e pela sociedade, mas o fazem de maneira orgânica e natural, dando espaço para que contem suas histórias; o que evidencia um tipo de narrativa na qual as narradoras colocam-se em posição de passividade, ouvindo o outro, possibilitando um espaço seguro e receptivo para o diálogo e o protagonismo de personagens que sequer seriam coadjuvantes. Elas constroem, portanto, uma horizontalidade interacional, que culmina em um protagonismo difuso, inclusivo e democrático, colocando em xeque práticas egocentradas da contemporaneidade.