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Focalizamos a distinção entre universalidade e globalidade em dois livros da filósofa Denise Ferreira da Silva, A Dívida impagável (2019) e Homo modernus (2022). A autora elabora nestes textos uma teoria “global” de raça que é, ao mesmo tempo, uma nova teoria do sujeito. No seu modelo, o racial é elemento constitutivo da modernidade porque a Ilustração tomou a racialização como base da produção do saber, e do seu sujeito. Pensar a raça é pensar o sujeito, e ao inverso. O global na obra de Ferreira da Silva não é a universalidade ocidental, mas “o outro contexto ontológico” produzido pelo racial. O sujeito moderno considerado “universal” possui interioridade e habita o “horizonte da vida”, ou seja, o contexto ontológico produzido pela tese da transparência. Mas os Outros da Europa, sujeitos da exterioridade, enfrentam-se à globalidade, o horizonte da morte. Abre-se assim um caminho para a reconstrução da consciência e do saber desde aquele contexto ontológico outro. Ferreira da Silva mostra que sujeito e o saber raciais são produzidos ao nível epistemológico, e trabalha no âmbito da expressão literária e artística em geral para abrir outros projetos de subjetividade e representação. Pela negação radical da poesis universal e o trabalho sobre a raça como estratégia simbólica, a sua obra permite repensar, entre outras muitas questões, a representação racial na literatura moderna e a desconstrução do “eu” transparente nos textos experimentais e de vanguarda.